terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Para a Inês

O coelho que queria ser guarda-nocturno



                O título desta história tem que ser corrigido. Eu não sou um coelho. Sou uma coelhinha, a Kika. Pelo menos é assim que a menina que cuida de mim me chama. O meu pêlo é macio e brilhante. O castanho e as manchas brancas dão-me uma cor alegre. A alegria é o tom mais forte da minha personalidade. Como da menina que trata de mim. O seu sorriso cativa os outros meninos. É muito bonita e encantadora. Inês é o nome dela. A Inês gosta muito de mim. Depois de fazer os trabalhos de casa da escola brinca comigo e eu brinco com ela. Saltitamos de degrau para degrau, sempre a subir. Depois, descemos a escadaria inteira em correria. Quando chegamos ao fim saltitamos de novo para cima. No topo das escadas íngremes e roxas está uma bela cenoura com ramo verde e muito carnuda para eu lanchar. Às vezes não lancho. Outras vezes tenho direito a três cenouras suculentas. Fico com a barriga cheia e um sorriso de orelha a orelha. Nessa altura tenho que fazer uma pausa e durmo uma sesta na minha casita. Foi construída com palha suave. É confortável e aconchegante. Posso dormir um sono descansado. Tão bem que me sinto aqui. Acordo ao som das notas melodiosas que se escapam das cordas do violoncelo desta garota de olhos negros e profundos com pestanas muito compridas. No outro dia despertei a sorrir com a sua música que enchia todas as divisões da casa de bonecas onde a Inês vive. As bonecas brincalhonas costumam fazer festas de aniversário e cantam os parabéns de vez em quando. Sopram as velas do bolo de chocolate e passam a tarde a cozinhar com a plasticina que se molda nas suas mãos de porcelana. É no quarto da casa que entro em silêncio bem de mansinho quando, no fim da festa, a Inês adormece. Tão frágil quando está na sua cama com lençóis azuis recheados de papoilas vermelhas com a sua fragrância de alfazema. As papoilas cobrem o seu corpo delicado como uma capa protectora. Salto para cima da estante repleta de livros coloridos que contam histórias de personagens fantásticas para sorrir. Fico de vigia aos seus sonhos. Sentada sobre as minhas patitas castanhas com manchas brancas, observo-a toda a noite. A Inês não sabe. Sou o seu guarda-nocturno. Esta a minha missão. É tão bom cuidar do seu sono profundo sem que dê conta que nunca está só.

1 comentário:

  1. Olá

    Muito obrigado pelo teu carinho. Adorei a história e a fotografia é muito fofinha. Esta história vai passar de geração em geração para os filhotes da KIka :)

    Obrigado

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