quinta-feira, 5 de setembro de 2013


Hoje despertei e
vislumbrei
o nada que sou
a nulidade em mim
sem ti,
sem ti,
sem ti.
Tu, tu e tu e tantos tus
são em mim o que sou.

quarta-feira, 22 de maio de 2013


A poesia é provavelmente um estado criativo extraordinário. Aquele que alcança a sua realidade expressando-a em palavras é um ser privilegiado. A arte de expressar na escrita a emoção e sentimento que perpassam momentaneamente no coração aproxima o ser da sua divindade infinita. O canto do seu ser no silêncio da redacção. A plenitude de quem voou pelas suas asas sob um céu no crepúsculo. Planar em si, para si, até ao infinito de si. Talvez a felicidade corporalizada na fusão do ser com o todo. O nada no todo que flui para a concretização da totalidade divina.
Deve ser essa a chamada do ser mais privilegiado. Aquele que se libertou das amarras daqueles que o queriam prender. Aqueles que sem despertar, permanecem adormecidos acreditando que aquele outro sonha. Sabem eles, assim entendem, que o sonho é para os ingénuos, para os loucos. Aquele que se libertou das amarras daqueles que o queriam prender não sonha. Despertou, antes. Acordou. Está desperto e voa na realidade que percebe. A sua realidade. O sonho para os outros que se creem despertos.
Aquele que se libertou das amarras daqueles que o queriam prender, porque atento, escutou. Escutou a chamada. Porque atento respondeu e vive no chamamento. Vive sem medo. Vive com a certeza profundamente sentida que está protegido. Como não? Porquê o medo se a existência é amorosa e compassiva? Porque não haveria de o ser com esse que despertou e voa, planando, na realidade que lhe é concedida. Sem nada fazendo que não fluindo na própria existência. Porquê o medo se a existência é amorosa e compassiva? Fluindo. Aqui, agora. Porque a existência é aqui e agora. Apenas e tanto no presente. O presente.
A imensidão do presente que se perde na nulidade do passado que desvaneceu e no futuro nulo do porvir que pode não vir.
A poesia. O poeta que chegará para expressar a tranquilidade que assola este ser e que canta as cores que tem o privilégio de assistir, contemplar, sentir. As cores da arte divina que se expandiram na tela do firmamento. O crepúsculo de um dia de primavera pintado pelo amor celeste e aclamado pela sinfonia das aves que habitavam esse presente. Obrigada!
Obrigada, pois pressinto que esse poeta está no seu caminho. Quando chegar descreverá a paz experienciada enquanto contemplava da minha varanda o Universo de que faço parte. Obrigada! 

segunda-feira, 13 de maio de 2013


De página em página. De lugar em lugar. De pessoa em pessoa. Tudo continua a cansar-me. Para quê isto? De novo a questão. Para quê isto? O pôr-do-sol que espreitei não me chega! O canto dos pássaros lá fora não me chega. As cores do céu não me chegam. Nada me chega! O poder está em mim. Eu posso, eu quero, eu sou capaz. Quantas vezes repito isto de mim para mim? O pensamento que desfaz, que faz, que pesa. O pensamento que pesa demais. O desassossego que marca de negro cada instante. Eu sei. Eu sei porque estou assim. Hoje vi-o. Cruzámos um olhar que não se tocou, que não se aproximou. Trocámos na distância suficiente um olhar que não se cruzou e não se tocou. Eu sei. Eu sei porque estou assim. Esperava sem esperar. Esperava sabendo que nada havia por que esperar.
De página em página. De lugar em lugar. De pessoa em pessoa. De hora a hora. Nada me satisfaz. Quero sair daqui. Ir embora. Vais-te sempre embora. O meu coração disparando o vazio. O vazio da emoção. A emoção que não me emociona. O lugar que não é meu. O lugar que não sei qual ser o meu. Esperava sem esperar. Sabia que não havia nada por que esperar. O z que se quer espraiar no nome que por si se inicia. O nome que não quero. O nome que não quero proferir. O não que não quero expressar. A apatia que me encerra. A apatia que não me preenche. O passado que não tem que ser emendado. Nada a esperar. Vais-te sempre embora. Quero ir embora. O desespero de não saber para onde. Onde? Ir para ficar. Ficar onde? Onde? Porquê?  Para quê? Além. Lá longe.
As horas passam por mim. O tempo desafaz-se em mim. Lá longe. Além. Os amores, o maior bem? Cuidado com o que desejas. Ao longe alguém escuta os teus pensamentos pensados.
De página em página. Não estou em lugar nenhum. As camadas que se descamam. O espaço que não há em mim. Qual o sentimento que há em mim? Nenhum. As horas que passam por mim. O mundo lá fora, fora de mim. O que me move? Nada. Nada me move. Estou parada. Esperando, sabendo que neste caso não havia nada por que esperar. Não fui. Vou embora. Vais-te sempre embora. Qual o sentimento profundo que há em mim? Nenhum. O meu ser desancorado. O que me move? A âncora que se desancora continuamente. Contínua e continuadamente desancorada no tempo e no espaço. O tempo que passa por mim. O espaço que não encontro para este ser. O espaço que há a mais em mim, sem que qualquer sentimento se sedimente neste ser pleno de espaço vazio.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A tatuagem

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A tatuagem. Uma marca definitiva no meu corpo. A tatuagem. Living Life Following my Heart. A tatuagem no tornozelo. Uma marca definitiva neste corpo. De quem é este corpo? O my na tatuagem em letra minúscula. Em letra minúscula. O corpo deste ser que se quer perder na vida. O ser que quer aceitar a vida, escutando o coração. A tatuagem no tornozelo esquerdo. O lado esquerdo. A tatuagem, a marca definitiva no lado esquerdo deste corpo. No lado do coração. O coração na tatuagem. Há quanto tempo a tatuagem na mente deste corpo? Nem sei. Há muito tempo. A sua natureza definitiva inibia este corpo de ser marcado, de ser tatuado. O Trevor. Banguecoque. O Trevor. A tatuagem é definitiva e? Remete-te para uma fase da vida. As palavras sábias de Trevor que marcaram este ser. A vida deste ser, deste corpo. Uma vida em movimento. Por isso o verbo em continuidade. Vivendo. Seguindo. A tatuagem. Uma pulseira com essa mensagem. A pulseira oferecida e que se mantém desde então. A tatuagem no tornozelo deste corpo. A tatuagem. A marca a lembrar. Vive a vida. Segue o coração. Definitivo? Quem sabe até quando seguirei o coração. Hoje foi o coração a comandar. A tatuagem. A marca definitiva. Lembra-te que a vida é para ser vivida. Viver. Fluir no amor e com amor. Escutando, seguindo o coração. Nada mais que isso. A tatuagem. Uma marca definitiva. A lembrança permanente de um modo de estar deste ser em movimento. Vivendo a vida, querendo fluir e seguir o coração.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Entre o eterno e o efémero

Entre o eterno e o efémero
Entre a liberdade e a prisão
Entre eu e tu
Entre a paz e o tormento

Qualquer escolha será apenas minha
A vida perpetua-se até ao infinito
A vida aqui, só minha
A tua não faz parte de mim

Quisera eu o eterno
Quisera eu a liberdade
Quisera eu a paz
Quisera eu o meu eu

Qualquer escolha será apenas minha
A minha vida, só minha
A minha vida escolhida por mim
Entre o eterno e o efémero.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ouvindo Lavande...

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Eu tenho andado por aí. Por vezes perdida. Por vezes comigo às voltas. Procurando o caminho até mim. As cartas que escrevi. As cartas que escreverei. Os pensamentos. Os sentimentos que foram. Os pensamentos. Os sentimentos que virão. Nunca sabemos até onde poderemos ir até que nos resolvamos a arriscar. O amor que foi. O amor que morreu. Hoje o amor não acontece. Um cêntimo pelo amor que chegará. Quero ir pelo meu amor. Quero chegar pelo meu amor. O meu amor que não chega. O meu amor que virá. O verde. O verde dos campos. O verde que começa a dar lugar às folhas caídas. O Outono que chega. A oportunidade de deixar cair o passado. O passado que foi. O Inverno que chegará. O frio que arrefecerá ainda mais o amor. A Primavera. De novo o verde. De novo a oportunidade do meu amor. O amor que será o fogo no Verão quente. Quero ir. Quero escrever-te. Quero dizer-te que foste o meu amor. Quero dizer-te que ainda serás o meu amor. Espera pela Primavera. Assim poderei ir nas folhas do Outono, hibernar no frio do Inverno e renascer nos botões das flores da Primavera. O meu amor virá com o odor dos pássaros que não se cansarão de celebrar o nosso amor. O nosso amor que o Verão aquecerá até à eternidade?

sábado, 21 de abril de 2012

Adele

Ouvindo a música de Adele, Mariana tinha dificuldade em estar atenta à estrada. Chovia muito desde que saíra da Casa Barbot. Tinha sido convidada para expor as suas últimas obras num lugar tão aristocrático. Ainda está surpresa por alguém se ter lembrado que tinha um conjunto de peças de joalharia acabadas de preparar. Sim, estava feliz. Era reconhecida. 
A música de Adle continuava fervorosamente pelos seus pensamentos. A chuva continuava a cair formando densos e perigosos lençóis de água na estrada.
Mariana estava em êxtase. Eram muitas as novidades para contar a Fernando e Sofia. A suas mensagens carinhosas atravessavam-se com a gaivota que tentava voar à sua frente enquanto conduzia. A gaivota lutava contra o intenso vento e voava, voava. Já não tinha forças para se impor à imensidão do céu e das nuvens negras ainda carregadas de água.
Adele continuava a dizer que estava desolada e incapaz de seguir a sua vida depois de tantas promessas em vão. As promessas não foram em vão quando telefonaram a Mariana para que expusesse as suas jóias. 
Mesmo feliz, as suas recordações da tarde com Sofia permaneciam no seu semblante algo carregado. A música de Adele, a tarde com Sofia. A exposição na Casa Barbot, tão aristocrática.
A chuva continuava a deitar-se na estrada. A estrada que seguia até ao restaurante. Que jantar a esperava? Quem estaria no restaurante e qual seria o jantar? O jantar no restaurante, a música de Adle a tocar e as mensagens carinhosas.
O carro seguia em automático e a gaivota tentava voar.
Mariana queira voar, voar. Mariana queria voar. Voava!