A poesia é provavelmente um
estado criativo extraordinário. Aquele que alcança a sua realidade
expressando-a em palavras é um ser privilegiado. A arte de expressar na escrita
a emoção e sentimento que perpassam momentaneamente no coração aproxima o ser
da sua divindade infinita. O canto do seu ser no silêncio da redacção. A
plenitude de quem voou pelas suas asas sob um céu no crepúsculo. Planar em si,
para si, até ao infinito de si. Talvez a felicidade corporalizada na fusão do
ser com o todo. O nada no todo que flui para a concretização da totalidade
divina.
Deve ser essa a chamada do
ser mais privilegiado. Aquele que se libertou das amarras daqueles que o
queriam prender. Aqueles que sem despertar, permanecem adormecidos acreditando
que aquele outro sonha. Sabem eles, assim entendem, que o sonho é para os
ingénuos, para os loucos. Aquele que se libertou das amarras daqueles que o queriam
prender não sonha. Despertou, antes. Acordou. Está desperto e voa na realidade
que percebe. A sua realidade. O sonho para os outros que se creem despertos.
Aquele que se libertou das
amarras daqueles que o queriam prender, porque atento, escutou. Escutou a
chamada. Porque atento respondeu e vive no chamamento. Vive sem medo. Vive com
a certeza profundamente sentida que está protegido. Como não? Porquê o medo se
a existência é amorosa e compassiva? Porque não haveria de o ser com esse que
despertou e voa, planando, na realidade que lhe é concedida. Sem nada fazendo
que não fluindo na própria existência. Porquê o medo se a existência é amorosa
e compassiva? Fluindo. Aqui, agora. Porque a existência é aqui e agora. Apenas
e tanto no presente. O presente.
A imensidão do presente que
se perde na nulidade do passado que desvaneceu e no futuro nulo do porvir que
pode não vir.
A poesia. O poeta que chegará
para expressar a tranquilidade que assola este ser e que canta as cores que tem
o privilégio de assistir, contemplar, sentir. As cores da arte divina que se
expandiram na tela do firmamento. O crepúsculo de um dia de primavera pintado
pelo amor celeste e aclamado pela sinfonia das aves que habitavam esse
presente. Obrigada!
Obrigada, pois pressinto que
esse poeta está no seu caminho. Quando chegar descreverá a paz experienciada
enquanto contemplava da minha varanda o Universo de que faço parte.
Obrigada!