quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ouvindo Lavande...

-->
Eu tenho andado por aí. Por vezes perdida. Por vezes comigo às voltas. Procurando o caminho até mim. As cartas que escrevi. As cartas que escreverei. Os pensamentos. Os sentimentos que foram. Os pensamentos. Os sentimentos que virão. Nunca sabemos até onde poderemos ir até que nos resolvamos a arriscar. O amor que foi. O amor que morreu. Hoje o amor não acontece. Um cêntimo pelo amor que chegará. Quero ir pelo meu amor. Quero chegar pelo meu amor. O meu amor que não chega. O meu amor que virá. O verde. O verde dos campos. O verde que começa a dar lugar às folhas caídas. O Outono que chega. A oportunidade de deixar cair o passado. O passado que foi. O Inverno que chegará. O frio que arrefecerá ainda mais o amor. A Primavera. De novo o verde. De novo a oportunidade do meu amor. O amor que será o fogo no Verão quente. Quero ir. Quero escrever-te. Quero dizer-te que foste o meu amor. Quero dizer-te que ainda serás o meu amor. Espera pela Primavera. Assim poderei ir nas folhas do Outono, hibernar no frio do Inverno e renascer nos botões das flores da Primavera. O meu amor virá com o odor dos pássaros que não se cansarão de celebrar o nosso amor. O nosso amor que o Verão aquecerá até à eternidade?

sábado, 21 de abril de 2012

Adele

Ouvindo a música de Adele, Mariana tinha dificuldade em estar atenta à estrada. Chovia muito desde que saíra da Casa Barbot. Tinha sido convidada para expor as suas últimas obras num lugar tão aristocrático. Ainda está surpresa por alguém se ter lembrado que tinha um conjunto de peças de joalharia acabadas de preparar. Sim, estava feliz. Era reconhecida. 
A música de Adle continuava fervorosamente pelos seus pensamentos. A chuva continuava a cair formando densos e perigosos lençóis de água na estrada.
Mariana estava em êxtase. Eram muitas as novidades para contar a Fernando e Sofia. A suas mensagens carinhosas atravessavam-se com a gaivota que tentava voar à sua frente enquanto conduzia. A gaivota lutava contra o intenso vento e voava, voava. Já não tinha forças para se impor à imensidão do céu e das nuvens negras ainda carregadas de água.
Adele continuava a dizer que estava desolada e incapaz de seguir a sua vida depois de tantas promessas em vão. As promessas não foram em vão quando telefonaram a Mariana para que expusesse as suas jóias. 
Mesmo feliz, as suas recordações da tarde com Sofia permaneciam no seu semblante algo carregado. A música de Adele, a tarde com Sofia. A exposição na Casa Barbot, tão aristocrática.
A chuva continuava a deitar-se na estrada. A estrada que seguia até ao restaurante. Que jantar a esperava? Quem estaria no restaurante e qual seria o jantar? O jantar no restaurante, a música de Adle a tocar e as mensagens carinhosas.
O carro seguia em automático e a gaivota tentava voar.
Mariana queira voar, voar. Mariana queria voar. Voava!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Liberdade

Leveza. As pedras lisas. As pedras rugosas. As pedras esburacadas. Todas as pedras cinzentas. Leveza. Todas as pedras gravitam. É a sua leveza que as comanda. Vermelho. Encarnado. Rubros os cravos que se desprendem do solo. Os cravos vermelhos, os cravos encarnados gravitam na sua leveza. Conduzem-se no ar leve por onde escolhem seguir. Escolhem juntar-se às pedras soltas. As pedras cinzentas, lisas, rugosas e esburacadas também querem e podem acompanhar os cravos vermelhos, encarnados, com pétalas macias e convidativas. Cheira a vermelho. O aroma leve do ar sem peso provoca nos cravos e nas pedras o apetite da terra molhada acabada de ser chuvida. As gotas leves da chuva tépida escolhem tocar as pétalas finas dos cravos vermelhos e as pedras soltas e cinzentas. Chuva, cravos, pedras escolhem a terra húmida acabada de ser chuvada. Leveza. Escolha. Terra molhada que chama os cravos vermelhos e as pedras soltas e livres que gravitam livres do seu peso.